Wesley Safadão vira apresentador e mostra o SJ do nordeste


Um furacão no palco. O público vai ao delírio e canta todas as músicas junto com ele: Wesley Safadão. A plateia sabe de cor todas as letras — e em muitos momentos canta pra ele. Por mês são em média 25 apresentações, mas no período junino esse número chega a 40. Empolgado, Wesley costuma presentear os fãs com uma esticada na duração dos shows.

Pontual, perfeccionista e, quem diria, tímido. Isso mesmo: tímido. Em tudo que faz, se preocupa com todos detalhes e foi com esse espírito que aceitou o convite para participar do São João do Nordeste. Mas não era só cantar, ele teria que viajar pelos nove estados da região para conversar com os artistas… Wesley foi convidado pela Globo Nordeste para ser o apresentador do programa, que vai ao ar neste sábado (13), depois do Zorra.

Até aí, tudo bem. O primeiro desafio era apresentar o programa. “O São João do Nordeste, pra mim, foi, sem dúvida nenhuma, um dos maiores aprendizados na minha carreira. Fiquei muito feliz quando recebi o convite, sabia que seria difícil mas, graças a Deus, com a produção, da forma que foi acontecendo, acabou se tornando um pouco mais fácil e muito prazeroso de se fazer. Uma experiência nova em cada lugar muitas histórias boas”, comentou o cantor.

O segundo desafio seria conciliar as agendas – de gravação do programa com os shows. “Eu pensei que fosse ter que perder um pouco das minhas folgas, que já não são tantas, mas graças a Deus, não. Quando tem que ser, acho que a minha agenda realmente tava bem legal pra conciliar com o programa e o prazer de poder participar, e o quanto foi bom, é o que tira qualquer cansaço”, disse.

A produção foi feita com base na agenda do cantor e a partir daí o roteiro foi sendo marcado com os artistas de cada estado. As gravações começaram num domingo, dia 12 de abril, na Paraíba. O primeiro encontro foi com Biliu de Campina e Helinho Medeiros. Biliu é o mestre da Forrobodologia e tem como companheiro inseparável um pandeiro. Wesley chegou meio tímido, mas o paraibano o deixou bem à vontade.

"Biliu explicou que não só toca forró pé-de-serra. Ele diz que toca “pé, cabeça, solo, subsolo até a gota serena, eu canto em qualquer canto”. Nesse encontro, Wesley arriscou tocar pandeiro, mas é preciso assistir ao programa para ver a avaliação de Biliu. No mesmo dia, a equipe formada por Eduardo Riecken, Toni Abreu, Kleber Estrela e eu seguiu para o estado vizinho, o Rio Grande do Norte. Era preciso se apressar porque a gravação iria começar ao meio-dia da segunda-feira.

Em Natal, muita música e muita conversa com Dorgival Dantas, que atualmente é um dos principais compositores do gênero. Ele é conhecido como Poeta e entre as músicas que compôs estão “Coração”, “Por quê” e um das mais conhecidas, “Você não vale nada”, usada na trilha sonora da novela “Caminho das Índias”.

Dorgival explicou de onde vem a inspiração e contou que começou a fazer música porque o pai dele tinha pedido. “Quando eu tinha 17 anos, ele disse assim: Faça ‘músiga’, chamava ‘músiga’. E quando eu vejo que tudo que eu consegui, dar estudo pros meus filhos, botar comida boa em casa, morar bem, foi tudo através da sanfona e de minhas canções que ele  pediu pra fazer…”, lembrou, emocionado.

Assim que acabava cada gravação, Wesley seguia para o aeroporto ou para a cidade onde iria fazer show. Na mesma semana, gravamos no Maranhão. Foi um dia díficil. A equipe sempre chegava três horas antes da gravação para montar a estrutura: as câmeras, a iluminação, mexer no cenário, testar os equipamentos dos músicos que iriam participar.

Tudo tinha que estar pronto e testado na hora marcada e, no Maranhão, a gravação seria às 17h. Começamos a montar tudo e no meio da tarde caiu aquela chuva — um temporal sobre a cidade de São Luís, com trovões e relâmpagos. As ruas ficaram alagadas e o local da gravação também foi atingido. Por segurança, tivemos que desmontar tudo. A hora estava passando e o desespero aumentava, não ia dar tempo de preparar tudo novamente.

A dupla Criolina e o Tambor de Crioula de Mestre Amaral, que eram as atrações, já estavam no local. Wesley viria direto do aeroporto e logo após a gravação viajaria mais 300 km para fazer um show. O tempo estava cronometrado. Pouco depois das quatro da tarde, começou a diminuir a intensidade da chuva e pudemos organizar tudo novamente. Gravação tem dessas coisas, imprevistos acontecem.

Seguimos em frente e Wesley conheceu o Tambor de Crioula, um ritmo e uma dança bem característicos do Maranhão. No mesmo lugar, a dupla Criolina, que chama a atenção pelo visual bem colorido e pela ginga. “A gente tem a influencia do forró, do funk muito forte na música negra e da coisa mais latino-americana, porque a gente está aqui na linha do Equador e recebe esse calor do Caribe. Essa influência é inevitável no som da gente”, explica Alê Muniz.

Para encerrar a primeira etapa, chegamos ao Piauí. Em Teresina, o humorista João Cláudio Moreno recebeu o São João do Nordeste. Imitou Luiz Gonzaga, Caetano Veloso e tirou muita onda com Wesley. Ele chegou a dizer que era impossível competir com a beleza do cantor e perguntou: “Esses óio teu, é lente de contato ou é olho mesmo?”

Depois de quatro gravações, uma pausa de 15 dias. Nesse período comecei a revisar o material e a fazer os novos roteiros que seriam passados para o nosso cantor/apresentador. Ele recebia um roteiro e estudava, mas sabia que o improviso era permitido. E é isso que deixa o programa bem legal.

A segunda etapa de filmagens começou no dia 4 de maio, na Bahia. Bell Marques abriu as portas do estúdio para nos receber. Muita música e bate-papo e Bell disse o que precisa para fazer as canções. “Pra compor uma musica, é muito engraçado. Eu fico olhando pra uma parede branca com um gravador e um violão. Fico tocando, tocando. Às vezes, levo o dia inteiro fazendo composições e no final eu não consegui chegar a lugar nenhum e já com o dedo esfolado, eu digo assim: cara, eu tô procurando alguma coisa que não existe, né? Eu quero fazer alguma coisa diferente. Esse negócio não existe. Diferente não existe. Aí eu vou sair do diferente e vou lá pro simples e nasce.” E no programa ele canta um monte de sucessos que surgiram desse jeito.

E por falar em música e em compositor, chegamos ao Ceará, terra natal de nosso apresentador e de um outro compositor muito famoso, Humberto Teixeira. Ele é o homenageado do São João do Nordeste. Nasceu há cem anos na cidade de Iguatu, que fica a 365 Km de Fortaleza. Parceiro musical de Luiz Gonzaga, compôs canções como “Asa Branca”, “Qui nem jiló”, “Dengo maior”, “Assum preto” – todas cantadas no programa.

Para marcar o ano do centenário do compositor, a Caravana Cearense do Baião montou o espetáculo “Os Humbertos”. “Nós costumamos dizer que no Ceará, um dos grandes patrimônios é a música. Essa caravana remonta a caravana que ele [Humberto Teixeira] fez quando era deputado federal”, conta o vocalista Michel Prudêncio. Nas apresentações, o grupo muda o ritmo de alguma das músicas de Teixeira.

Já gravamos seis estados, faltam três. Em Sergipe, Wesley cantou e conversou com a banda Calcinha Preta. Ele quis saber como começou o namoro dos vocalistas Paulinha e Marlus. “Quando olhei esse lorde, o Cupido me flechou e eu disse: quero este homem pra mim”, revela a cantora. Entre as músicas, o grupo cantou o mais novo sucesso, “Balada Prime”.

De volta ao Recife, começamos a montar o programa, a ver as imagens, eu e o editor Jucielo Freitas. Enquanto isso, Samuel Abílio já começava a preparar as artes que seriam usadas no programa. Sim! Em cada estado que gravamos, contamos com as afiliadas da Globo. Eram cinegrafistas, produtores, auxiliares, em um grande trabalho de equipe. O roteiro encerra o programa em Pernambuco, mas a gravação no estado foi a penúltima da agenda. Mais uma vez, a chuva ameaçava o cenário montado na Fundação Gilberto Freyre. Depois de muita música e muita risada com Jorge de Altinho e Gabriel Diniz, encerramos a gravação, segundos antes da chuva cair.

Nessa mistura de pé-de-serra com forró estilizado, Wesley e Gabriel agradeceram a Jorge por ele ter aberto o caminho. Foi Jorge de Altinho quem trouxe os metais para o forró e explicou. “Como eu era muito fã de Raul Seixas e de Tim Maia, aí eu pensava em fazer um forró com a letra mais urbana e trazer os metais de Tim Maia pro meu forró.”

Mas peraí! Faltava ainda gravar em Alagoas e foi no dia 30 de maio que acabamos todas as gravações. Lá em Maceió, Wesley conheceu o Matuto de Luxo, Geraldo Cardoso. Depois de explicar a origem do apelido, ele não aguentou a curiosidade e revelou: “Eu fiquei me perguntando quando disseram que eu ia gravar contigo: por que Safadão, heim?”.
A resposta você vai ver no São João do Nordeste.

Safadão é só o nome artístico de uma pessoa que tratou com respeito e carinho cada uma das pessoas que passaram pelo programa. Foi gentil não só com os artistas, mas com todos que encontrava, na frente ou atrás das câmeras. E o brilho que traz com ele, Wesley não se importou em dividir com todos.

Tá bom de falar, agora é esperar a hora do programa! E para encerrar, um recadinho do nosso cantor/apresentador: “Eu espero que vocês gostem desse programa porque foi feito com muito carinho. Eu me empenhei ao máximo. Um beijo a todos vocês, espero que vocês curtam”. Eu e todos, dos nove estados do Nordeste, também esperamos que gostem. O programa foi feito para vocês.


fonte: portal g1